sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Feliz 2009

Estou me ausentando por motivo de viagem, mas não sem antes desejar antecipadamente meus votos de um feliz 2009 pra todos vocês.

Aos pais, familiares, amigos e demais, um 2009 recheado de saúde (mental e física), boas novidades, alegrias e paz. Que seja um ano promissor em todas as áreas e que consigamos conquistar, cada vez mais, nosso lugar no universo com humildade.

Que a mudança não seja apenas numérica, que as promessas não fiquem apenas em palavras e que a vida faça de nós seres cada vez mais evoluídos e capazes.

Tudo de melhor pra vocês. Feliz 2009!

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

FELIZ NATAL

Mais um Natal distante de todos. Mais uma data comemorada ao lado de pessoas nem tão próximas, apenas recém conhecidas. Mas acho que o espírito natalino vai além da intimidade que temos para com as pessoas, pois é (para mim) um momento de reflexão individual.

Portanto, aos que estão longe, sintam-se abraçados, exatamente como eu me sinto agora, independente de onde eu esteja, com quem esteja.



Essa "árvore", uma canga feminina verde dobrada e colada com fita crepe na parede, cheia de cacarecos como tampinhas de cerveja, brincos, colares, moedas e até folheto de pizzaria, é a nossa maneira simbólica de representar o Natal em nossa humilde (muito humilde) república.

É nesse clima de improviso que escrevo essas palavras enquanto as meninas também improvisam algo para a ceia (eu já ajudei em algumas coisas, tá? hahahaha).

Então, é isso. Um felicíssimo Natal para todos vocês!

Indiana Ximba Jones

Às vezes, quando descrevo algumas coisas sobre a cidade, talvez seja normal alguns desconfiarem se é realmente verdade, ainda mais quando é algo completamente incomum como, por exemplo, estar cozinhando e, de repente, pular um macaco na janela que dá bem de frente para o fogão.

Sorte a nossa que a janela estava apenas meia aberta, senão o bixão poderia até roubar a nossa panela de feijão.

Depois do susto, todos saímos correndo pra pegar nossas câmeras. Sorte a nossa que ele migrou da nossa cozinha pro meu quarto. O Mário, meu companheiro de quarto, até deu uma banana pra ele.

(Visto do meu quarto)

Horas depois, ele foi visitar o outro lado do prédio, na laje que dá bem de frente pro quarto das meninas, agora acompanhado de outro. Enquanto uns jogavam comida, outros arremessavam objetos que poderiam ferí-lo. Fiquei sem entender, já que os macacos também são sagrados por aqui. Mas depois lembrei que moro num bairro de maioria muçulmana.



terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Nova Déli

E lá estava eu no meu quarto de "Hotel" (mais parecia um muquifo de uma pensão barata), em Nova Déli. Alguns compromissos me levaram até a capital da Índia e, como apenas teria uma tarde livre, decidi aproveitar. Sozinho, o difícil era saber como.

Fuçando nas gavetas do tal quarto, achei um guia turístico. Nem preciso dizer quão sortudo me senti, não é? Tomei um banho e recarreguei a bateria da máquina fotográfica enquanto devorava o mapa da cidade, tentando me localizar e vendo o que estava ao meu alcance.

Não demorou muito para que eu traçasse meu roteiro, não sem antes checar quantas rúpias (moeda local) havia dentro da minha carteira. Aliás, a pouca quantidade dessas cédulas sujas me levou a reduzir meu tour pela metade.

Meu primeiro destino seria um lugar chamado Qutub Minar, próximo ao local onde me encontrava. Um motorista de um 'ricksha' abrasileirado (verde e amarelo), tradicional meio de transporte indiano (também conhecido como "tuque-tuque") tentou estragar meu humor antes de iniciar minhas andanças pela capital indiana. Depois de entrar em seu veículo, vi que ele não mexeu no taxímetro e pedi explicações; em vão. Perguntei, então, por quanto ele estaria me levando ao local turístico e nem preciso dizer a fortuna que ele cobrou, não é? Pedi para que ele parasse, também em vão. Só o fez quando chegamos. Paguei bem menos da metade do valor cobrado, o que o levou a me xingar em alto e bom som diante da enorme fila (que agora olhava toda para mim) que estava à frente do local. Respirei fundo e superei o olhar dos curiosos, cansado de cair nesse velho golpe dado aos turistas em todos os lugares que já passei.

A primeira impressão ao entrar nesse parque conhecido como Qutub Minar é de estar voltando ao passado. Declarado Patrimônio Mundial da Unesco, chama a atenção pela arquitetura islâmica que preenche o local. A torre, um minarete de tijolos mais alta do mundo (quase 73m de altura), impressiona pela beleza dos detalhes que a moldam. Ali também se encontra ruínas da primeira mesquita da Índia, o que justifica a enorme quantidade de muçulmanos se prostrando em frente. Há também uma tumba e uma torre interminada que seria construída para ser maior que a anterior. O lugar é lindo, grande, cheio de lugares e detalhes a serem apreciados. O dia ensolarado levou milhares de pessoas, que ficaram jogadas na grama fazendo piquenique.





Não posso deixar de citar algo curioso que me aconteceu lá dentro. Uma senhora indiana, vendo minha luta para pedir a outras pessoas que tirassem uma foto minha, ofereceu ajuda. Claro que, de início, a achei super simpática, já que até indicava as melhores posições e ângulos para ser fotografado. Oras, mas assim que recolhi minha câmera (depois de tirar uma foto com ela), a tal senhora me fez lembrar que o velho ditado de que "nada é de graça" também vale (e muito) por aqui. Logo surgiu uma criança, que estava acompanhada dela, me pedindo uns trocados pelo "favor".



Assim que terminei esse passeio, comecei a negociar com alguns motoristas um preço razoável para que um deles me levasse até ao Lotus Temple. Meia hora depois, consegui.

Fiquei encantado com o que vi logo que cheguei ao lugar. O templo, em formato de uma flor de lótus, é uma casa de adoração à fé Barha'i, original da Pérsia. Particularmente, nunca tinha ouvido falar dessa religião.



Dentro de um imenso jardim verde e florido, é preciso enfrentar uma fila enorme para chegar ao seu interior, mas antes seus sapatos são recolhidos e devolvidos na saída. O lugar é limpo e organizado, com guardas que apitam contra os furões de fila e aos que pisam no gramado. Mas o mais incrível mesmo fica no interior do templo: um silêncio que só é rompido pelo cantarolar dos pássaros. Lá dentro, não existem imagens de deuses, nem esculturas, nem pinturas. É como se fosse um templo ou uma Igreja vazia, apenas com bancos para que as pessoas possam meditar e fazer suas orações. Não são realizadas missas ou cerimônias para que todas as pessoas das mais variadas religiões sintam-se bem-vindas ali, já que conforme seus princípios, todas as religiões ensinam o amor e a unidade, sendo o fanatismo e a intolerância as razões dos conflitos humanos.


Depois de ter minha alva lavada, retornei para meu quarto de hotel pensando no dia que acabara de ter e concluí quão abençoado sou por todas as oportunidades de conhecer lugares tão especiais capazes de me levar a uma profunda reflexão interior enriquecedora e um desenvolvimento espiritual fortificante.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

O Grande Espetáculo de Andheri

Dizem que um lugar feio é apenas uma questão de ponto de vista. E quando eu caminho dez minutos entre becos e ruelas estreitas, chego a acreditar nisso!

O homem e seu cachorro




O ambulante



Ninguém quis ficar de fora



À beira-mar



OBS: Imagens sem photoshop para a felicidade dos meus olhos :D

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Adaptando-me, diariamente.

Sempre que me perguntam como estão as coisas aqui em Mumbai-Índia, digo que ainda estou em processo de adaptação. Claro, apenas dez dias se passaram desde minha chegada e é comum que eu ainda tenha tanto a me habituar nessa cidade tão cheia de particularidades. Mas minha sensação agora que posso transitar "tranquilamente" pelas ruas após os atentados terroristas que mataram quase 200 pessoas na semana passada, é que temos que nos adaptar diariamente ao estilo de vida deles.

(CLIQUE NA IMAGEM ACIMA)

Na região onde moro, um subúrbio chamado Andheri ao norte de Mumbai, é preciso se acostumar ao mau cheiro, aos animais que trafegam livremente nas ruas e calçadas entre nós, insetos e à pobreza chocante. Uma coisa é ser turista, passar por aqui, ver e ir embora; outra é você ter de aprender a conviver com tudo isso sem que interfira tanto na sua qualidade de vida.




Nas tradicionais bancas de frutas, verduras e legumes são difíceis de encontrar alimentos sem que haja "voadores" pousados neles. E depois de presenciar ao vivo a forma como manuseiam sua comida fica ainda mais difícil encarar um restaurante local para provar sua comida típica, a não ser que opte pelos estabelecimentos mais caros.

E por falar em comida, se você realmente gosta de pimenta vai adorar o menu indiano. Os pratos queimam só de olhar àqueles que não estão acostumados com o uso excessivo desse tempero (meu caso). Também é possível escolher entre a culinária vegetariana ou carnívora devido à diversidade religiosa. Mas difícil mesmo é encontrar algum prato sem pimenta. Aliás, o excesso desse apimento me faz acreditar que eles mesmos se questionam quanto a seus métodos higiênicos já que ela também é usada como bactericida.

Em outras de minhas andanças pelo subúrbio também tive a sensação de que essa região passa por várias reformas. Os andaimes à frente dos prédios, feitos de bambu e amarrados com corda manualmente, como manda a tradição, dão um certo tom rústico. E entre entulhos é comum encontrar grupos de indianas conversando vestidas dentro de seus belos e coloridos "sáris" de cóccix, me lembrando a posição mais usada pelos indígenas. O número de muçulmanos também é numeroso por aqui, sendo as mulheres vestidas dos pés a cabeça mesmo nos dias mais quentes.



Se alguma rua não estiver passando por nenhum problema de saneamento (algo normal aqui) é comum sentir o perfume dos incensos acesos como oferenda aos seus deuses. Por sinal, a religiosidade aqui está em tudo. Várias imagens sagradas ilustram os estabelecimentos e quando um pedestre se depara com uma vaca, eles a tocam e fazem uma espécie de benção, assim como muitos católicos gesticulam o sinal da cruz ao passar em frente a uma Igreja.

Diante dessa minha nova realidade, tudo me chama a atenção. Fico imaginando o que ainda está por vir enquanto não me for apresentada a parte nobre da cidade, agora num tom mais dramático após os atentados. Mas sei que ainda não devo ter pressa, pois me falta muito a explorar nessas regiões mais pobres onde vivo atualmente.


segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Aventura, por Osho

O conhecimento oficial é coisa segura; a busca do conhecimento pessoal, porém, é muito, muito arriscada. Ninguém pode garantir o resultado. Se você me perguntar se posso garantir alguma coisa, direi que não posso garantir-lhe nada. Só posso garantir o perigo - isso é certo. Só posso garantir-lhe uma longa aventura, com todas as possibilidades de dar errado e de nunca se atingir a meta. Uma coisa, porém, é certa: a própria busca irá ajudá-lo a crescer.
Só posso garantir-lhe o crescimento. O perigo estará lá, o sacrifício estará lá; você estará mergulhando a cada dia no desconhecido, em terreno inexplorado, e não haverá nenhum mapa a seguir, nenhum guia para acompanhar. Sim, há milhões de riscos e você poderá desviar-se, poderá perder-se, mas é esta a única maneira de crescer.
A insegurança é a única senda para o crescimento, enfrentar o perigo é a única forma de crescer, aceitar o desafio do desconhecido é o único caminho para se crescer.



Quando estamos realmente com espírito de aventura, andamos exatamente como esta criança. Cheios de confiança, vamos, passo a passo, saindo da escuridão da floresta para o clarão da luz, levados pela nossa capacidade de nos maravilharmos na trilha do desconhecido.
A idéia de aventura realmente não tem nada a ver com planos e mapas, programações e organização. O Valete do Arco-Íris representa um estado de espírito que pode tomar conta de nós em qualquer lugar -- em casa ou no escritório, no campo ou na cidade, num empreendimento criativo ou no nosso relacionamento com outras pessoas. Sempre que nos lançamos ao novo e desconhecido com o espírito confiante de uma criança, inocentes, abertos e vulneráveis, até mesmo as menores coisas da vida podem transformar-se nas maiores aventuras.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Andheri, Versova - Mumbai

Apresento-lhes o subúrbio indiano, lugar onde moro.

Minha rua

Alinhar ao centro

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Acho que está acabando.

Desde quando acordei, às 8h, estou acompanhando as últimas novidades sobre os atentados aqui em Mumbai.

Pelo que tenho visto, a maioria dos reféns dos Hotéis já foram libertados. A polícia tem realizado buscas pra resgatar os possíveis hóspedes que possam estar escondidos nos quartos trancados com medo dos atiradores. Alguns barulhos indicam que há troca de tiros ainda lá dentro. A polícia diz que nos Hotéis a situação está sob controle. Eles dizem que os terroristas que estão escondidos estão feridos e completamente cercados. Restam poucos.

A prioridade agora é libertar os reféns que estão num centro de estudos judaico. Há um rabino israelense ali dentro. As imagens mostram homens de elite descendo de helicóptero nos telhados do templo. Após a ação, alguns reféns foram libertados. As autoridades afirmam que até o fim do dia espera recuperar o restante dos reféns e prender os acusados.

Seguem as notícias...

Libertaram alguns reféns dos Hotéis Taj Mahal e Oberoi/Trident, mas tudo indica que há pessoas escondidas nas dependências desses lugares. Talvez hajam reféns ainda. Escutam-se tiros e explosões lá dentro. Uma parte do Taj Mahal Hotel voltou a pegar fogo.

O número de mortos subiu para 125; feridos são em torno de 327.

Os aeroportos estão um caos, entupidos de gente querendo sair da cidade.

Onde moro, as ruas voltaram a ser movimentadas. Vê-se pessoas trabalhando e circulando normalmente.

Uma repórter da CNN entrou ao vivo da frente do Hotel Taj Mahal quando curiosos começaram a reprendê-la por trabalhar numa emissora americana. Ela é indiana. Tiraram-a do ar. Depois mostraram as imagens dela em outra chamada comentando a confusão.

Primeiras imagens

Apreensão pós-caos; ruas desertas


Sem-tetos entre vaca sagrada


Vista de casa; tradicional andaime feito de bambu e corda (meu "barraco" tá sob reforma)


quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Aqui estou.

"Senhoras e senhores, aqui quem fala é o comandante e peço a atenção de vocês para avisar-lhes que vamos sobrevoar a cidade de Mumbai durante 30 minutos, aproximadamente, devido ao trânsito aéreo até que nos permitam pousar."

As palavras do comandante me deixaram apreensivo. Isso porque eram quase duas horas da madrugada de terça-feira e, se o tráfego aéreo estava "daquele jeito" nesse horário, imaginei o que estava esperando por mim logo ali abaixo.

Logo após ser muito bem recepcionado por uma indiana que me aguardava, Glória, ela já me avisara que o que eu veria no caminho até o local de minha hospedagem não é comum. As ruas estavam "tranquilas", segundo ela, devido ao horário. Mesmo assim, deu para ter, mais uma vez, uma pequena idéia do que estaria por vir no horário comercial.

Na manhã seguinte, após andar num tradicional meio de transporte local, conhecido como "tuque-tuque", vi que cada pequeno pedaço de rua é disputado por transeuntes, animais sagrados e motoristas numa rua normalmente já intransitável (para nós, ocidentais). Sem falar nos apitos, buzinas e motores barulhentos ensurdecedores.

(pausa)


Enquanto escrevo sobre as coisas que vi no meu primeiro dia, fui informado dos ataques terroristas que aconteceram aqui. Fui tomado por uma mistura de insegurança, medo e ... raiva!

Isso porque se for provado que é uma questão religiosa/política envolvendo a velha questão da Caxemira é natural esperar uma indignação dos inocentes que se sentem ameaçados por tais grupos separatistas.

A área atingida hoje, nobre, "coração turístico e financeiro" da cidade, fica longe de onde resido, praticamente a duas horas de carro (moro num subúrbio). Hotéis, bar, estação de trem,... E essa raiva porque nunca havia me sentido ameaçado "diretamente" morando no Brasil. Claro que ao vermos pelos jornais/televisão sobre o que acontece no outro lado do mundo temos compaixão, tentamos ser solidários de alguma forma. Mas a sensação é outra quando você passa a ser parte do "problema". Daí vem aquela indignação de que coisas assim sempre acontecem e o que fazem para combater é, senão pouco, insuficiente.

Varei a noite acompanhando os noticiários que estão cobrindo o fato 24 horas. Praticamente, cochilei algumas horas apenas. Fico impressionado com as notícias que surgem. Testemunhas dizem que os terroristas são "crianças/jovens" entre 20 e 25 anos armados com armas automáticas e granadas. Pertencem a um grupo chamado Deccan Mujahedeen, nunca ouvido falar até então e chegaram até aqui através de um barco. Não se sabe ainda os motivos almeijados por tal grupo, mas tudo indica que seja uma questão religiosa/política patrocinado pelo Paquistão.

Hoje, quinta-feira, dei uma volta na rua e vi que elas estão desertas, se consideradas a movimentação comum em dias normais. Escolas e universidades estão fechadas.

Não sei ao certo como os fatos estão sendo mostrados no Brasil, mas aqui especula-se que 101 pessoas tenham sido mortas, sendo seis estrangeiros, 14 policiais e 81 indianos. Dezenas de pessoas seguem reféns em dois hotéis cinco estrelas de beleza cinematográfica. Ou seja, embora o local atingido seja a área mais frequentada por turistas e residentes, afirmo que não é um atentado contra estrangeiros como tenho tido notícias que andam espalhando por aí, mesmo que esse grupo tenha procurado por americanos e ingleses, preferencialmente.

Espero que tudo isso acabe logo para que a vida possa seguir adiante. Que as autoridades prendam os responsáveis e descubram meios mais eficazes de combater ataques que afetem as vidas de pessoas inocentes.

De luto.