quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Aqui estou.

"Senhoras e senhores, aqui quem fala é o comandante e peço a atenção de vocês para avisar-lhes que vamos sobrevoar a cidade de Mumbai durante 30 minutos, aproximadamente, devido ao trânsito aéreo até que nos permitam pousar."

As palavras do comandante me deixaram apreensivo. Isso porque eram quase duas horas da madrugada de terça-feira e, se o tráfego aéreo estava "daquele jeito" nesse horário, imaginei o que estava esperando por mim logo ali abaixo.

Logo após ser muito bem recepcionado por uma indiana que me aguardava, Glória, ela já me avisara que o que eu veria no caminho até o local de minha hospedagem não é comum. As ruas estavam "tranquilas", segundo ela, devido ao horário. Mesmo assim, deu para ter, mais uma vez, uma pequena idéia do que estaria por vir no horário comercial.

Na manhã seguinte, após andar num tradicional meio de transporte local, conhecido como "tuque-tuque", vi que cada pequeno pedaço de rua é disputado por transeuntes, animais sagrados e motoristas numa rua normalmente já intransitável (para nós, ocidentais). Sem falar nos apitos, buzinas e motores barulhentos ensurdecedores.

(pausa)


Enquanto escrevo sobre as coisas que vi no meu primeiro dia, fui informado dos ataques terroristas que aconteceram aqui. Fui tomado por uma mistura de insegurança, medo e ... raiva!

Isso porque se for provado que é uma questão religiosa/política envolvendo a velha questão da Caxemira é natural esperar uma indignação dos inocentes que se sentem ameaçados por tais grupos separatistas.

A área atingida hoje, nobre, "coração turístico e financeiro" da cidade, fica longe de onde resido, praticamente a duas horas de carro (moro num subúrbio). Hotéis, bar, estação de trem,... E essa raiva porque nunca havia me sentido ameaçado "diretamente" morando no Brasil. Claro que ao vermos pelos jornais/televisão sobre o que acontece no outro lado do mundo temos compaixão, tentamos ser solidários de alguma forma. Mas a sensação é outra quando você passa a ser parte do "problema". Daí vem aquela indignação de que coisas assim sempre acontecem e o que fazem para combater é, senão pouco, insuficiente.

Varei a noite acompanhando os noticiários que estão cobrindo o fato 24 horas. Praticamente, cochilei algumas horas apenas. Fico impressionado com as notícias que surgem. Testemunhas dizem que os terroristas são "crianças/jovens" entre 20 e 25 anos armados com armas automáticas e granadas. Pertencem a um grupo chamado Deccan Mujahedeen, nunca ouvido falar até então e chegaram até aqui através de um barco. Não se sabe ainda os motivos almeijados por tal grupo, mas tudo indica que seja uma questão religiosa/política patrocinado pelo Paquistão.

Hoje, quinta-feira, dei uma volta na rua e vi que elas estão desertas, se consideradas a movimentação comum em dias normais. Escolas e universidades estão fechadas.

Não sei ao certo como os fatos estão sendo mostrados no Brasil, mas aqui especula-se que 101 pessoas tenham sido mortas, sendo seis estrangeiros, 14 policiais e 81 indianos. Dezenas de pessoas seguem reféns em dois hotéis cinco estrelas de beleza cinematográfica. Ou seja, embora o local atingido seja a área mais frequentada por turistas e residentes, afirmo que não é um atentado contra estrangeiros como tenho tido notícias que andam espalhando por aí, mesmo que esse grupo tenha procurado por americanos e ingleses, preferencialmente.

Espero que tudo isso acabe logo para que a vida possa seguir adiante. Que as autoridades prendam os responsáveis e descubram meios mais eficazes de combater ataques que afetem as vidas de pessoas inocentes.

De luto.

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