terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Um caso de polícia?

Era pra ser apenas mais uma noite de "sessão pipoca" como outra qualquer. Jogados no sofá do apartamento com duas bacias de pipoca de um lado e um prato de brigadeiro no outro, assistíamos ao filme "A Janela Secreta", com Johnny Depp, na TV.

O volume estava alto e o filme quase no final, sendo pouco provável que qualquer outra coisa tiraria minha atencão naquele momento, até que minha companheira de república se queixou de um barulho vindo de fora. Entretido, nem dei bola. Segundos depois, ela reclama do barulho novamente e diminui o volume da televisão. Parecia que um furacão estava descendo pelas escadas do prédio.

Assustado, mas curioso, saí que nem um foguete do sofá em direção à porta para espiar pelo buraco do olho mágico o que acontecia lá fora, mas o "furacão" já havia chegado na rua.

Corri para a sacada e a cena que vi foi de pura covardia: aproximadamente seis ou sete homens do meu prédio batiam num homem com socos, pontapés e pedaços de bambu. Fiquei horrorizado, assim como todas as meninas que moram comigo.

Depois de um certo momento, os seguranças traziam novamente o homem para dentro do prédio, ainda sendo agredido enquanto conduzido. Mesmo sem saber o motivo pelo qual a vítima apanhava, meu instinto falou mais alto e gritei para que parassem. Moro no primeiro andar, estava bem na frente deles e todos olharam para mim e pararam.

O homem, já sem camisa, ficou sentado no chão do prédio chorando, enquanto que seus agressores entraram novamente no edifício. A confusão fez com que muitos moradores de outros prédios também saíssem para ver o que estava acontecendo. Alguns gritavam.

Minutos depois, os seguranças voltaram, pegaram o homem machucado e levaram para dentro do prédio. Com medo que aquela covardia continuasse, pensei em chamar a polícia, mas depois fiquei sem saber o que seria pior para o homem num país onde a pena de morte ainda não foi totalmente abolida.

Ainda sem saber porque o homem apanhava, um indiano que falava inglês subiu até o nosso apartamento para tentar explicar a situação. Ele disse que o homem que apanhava era o motorista da mulher do proprietário do prédio e havia desrespeitado ela. Então, ele chamou os seguranças para que lhe dessem uma "lição" e levaram o homem para dentro do prédio até que a polícia chegasse e o levasse dali.

Não sou idiota, muito menos cego. Óbvio que não acreditei nessa explicação estúpida. Oras, um "motorista" trabalhando de shorts, camiseta e sandália para uma mulher rica? Por favor, né?!

A essas horas, meu filme já havia acabado, não pude acompanhar o final e a polícia não havia chegado até eu ir pra cama, mais de uma hora depois, o que reforçou minha idéia de que o cara estava mentindo.

Ainda com o coração acelerado, tentei dormir querendo esquecer o que ainda estava para acontecer com aquele homem lá fora. Assim que meus olhos se fecharam, ouvi um grito vindo de longe, me fazendo pensar que eu prefereria que um furacão (agora sem aspas) estivesse lá fora para abafar seus gritos de dor.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

A Índia, a novela global e o filme de ouro

A Índia é mesmo uma fonte de inspiração para muitos. A prova disso é a enxurrada de notícias que o país tem sido ao redor do mundo.

Para resumir, quero apenas abordar como diferentes países têm explorado a Índia e algumas de suas inúmeras faces; o Brasil, através da Rede Globo, a selecionou como assunto para a sua novela no horário de maior audiência, enquanto que renomados escritores e diretores ingleses escolheram o país para retratá-lo em um filme, Slumdog Millionaire.

Estamos falando de um mesmo lugar exposto de maneiras opostas, por visões e interesses diferentes. Enquanto a autora brasileira, Glória Perez, aproveita o polêmico assunto do casamento proibido entre duas pessoas de origens diferentes para alavancar sua audiência, o diretor inglês Danny Boyle se aprofunda no submundo indiano para retratar a vida de um favelado que se torna milionário ao ganhar um jogo de perguntas num programa televisivo.

Vou tentar ser o menos injusto possível com a novela. Assumo que assisti apenas alguns poucos capítulos do folhetim no início e achei super interessante como a história do Rio Ganges, a formação do sistema de castas e outras coisas foi abordada no ar. Mas depois enjoei ao perceber que iriam ficar "batendo na mesma tecla" do casamento proibido entre um "dalit" (um "intocável", um sem casta) e uma "brâmane" (pertencente a mais alta casta) - além de o casal principal ser um verdadeiro "chute no saco", na minha opinião (hehehe).



Ah, eu considero a Índia um país tão cheio de diversidades que não seria tão difícil abordar temas capazes de prender os telespectadores em frente à televisão. Agora, insistir num assunto que nem condiz tanto com a realidade daqui considero apelativo. Falo isso porque sempre que converso com os indianos mais próximos de mim ou outros que conheço ocasionalmente tiro dúvidas a fim de quitar minhas inúmeras curiosidades daqui e uma delas sempre foi o casamento. A grande maioria diz que isso é passado, que hoje as coisas vêm sofrendo uma transformação radical nesse aspecto e que, sim, eles/as podem escolher seus/suas namoradas/os e noivas/os como bem quiserem. Somente as famílias mais tradicionais mantêm esse tipo de atitude ainda. Oras, sem falar que a novela é baseada em histórias de famílias indianas ricas, o que também não considero muito a realidade daqui. A miséria/pobreza está em todos os lados; a riqueza que é excessão, incomum.

Enquanto isso, a direção de Danny Boyle (de Trainspotting) mergulha nesse lado sub humano da Índia, mostrando como dois irmãos "dalit" dão um jeito na vida após perderam seus pais numa briga entre hindus e muçulmanos numa das maiores favelas do mundo. Sempre juntos, mas com personalidades opostas, cada um segue um caminho diferente num filme que lembra muito o sucesso brasileiro "Cidade de Deus", de Fernando Meirelles. Particularmente, acho um filme que aborda a miséria indiana muito mais condizente com a sua realidade que um folhetim que mostra a vida de indianos rico-milionários.



Enfim, a novela global tem tudo para ser um sucesso, principalmente, por pertencer à emissora de maior audiência brasileira, podendo bombardear seus telespectadores com o assunto "Índia" em toda sua grade de programas, induzindo-os a apreciar o folhetim. Já o filme, tido como "azarão" em muitos festivais internacionais de cinema, com atores feios e desconhecidos do público mundial, abocanha prêmios e mais prêmios, incluindo quatro Globos de Ouro e concorrendo a mais nove estatuetas pelo Oscar. Agora, cabe a cada um fazer sua escolha a respeito da Índia que melhor lhe agrade ou conheça. Eu já fiz a minha!