terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Nova Déli

E lá estava eu no meu quarto de "Hotel" (mais parecia um muquifo de uma pensão barata), em Nova Déli. Alguns compromissos me levaram até a capital da Índia e, como apenas teria uma tarde livre, decidi aproveitar. Sozinho, o difícil era saber como.

Fuçando nas gavetas do tal quarto, achei um guia turístico. Nem preciso dizer quão sortudo me senti, não é? Tomei um banho e recarreguei a bateria da máquina fotográfica enquanto devorava o mapa da cidade, tentando me localizar e vendo o que estava ao meu alcance.

Não demorou muito para que eu traçasse meu roteiro, não sem antes checar quantas rúpias (moeda local) havia dentro da minha carteira. Aliás, a pouca quantidade dessas cédulas sujas me levou a reduzir meu tour pela metade.

Meu primeiro destino seria um lugar chamado Qutub Minar, próximo ao local onde me encontrava. Um motorista de um 'ricksha' abrasileirado (verde e amarelo), tradicional meio de transporte indiano (também conhecido como "tuque-tuque") tentou estragar meu humor antes de iniciar minhas andanças pela capital indiana. Depois de entrar em seu veículo, vi que ele não mexeu no taxímetro e pedi explicações; em vão. Perguntei, então, por quanto ele estaria me levando ao local turístico e nem preciso dizer a fortuna que ele cobrou, não é? Pedi para que ele parasse, também em vão. Só o fez quando chegamos. Paguei bem menos da metade do valor cobrado, o que o levou a me xingar em alto e bom som diante da enorme fila (que agora olhava toda para mim) que estava à frente do local. Respirei fundo e superei o olhar dos curiosos, cansado de cair nesse velho golpe dado aos turistas em todos os lugares que já passei.

A primeira impressão ao entrar nesse parque conhecido como Qutub Minar é de estar voltando ao passado. Declarado Patrimônio Mundial da Unesco, chama a atenção pela arquitetura islâmica que preenche o local. A torre, um minarete de tijolos mais alta do mundo (quase 73m de altura), impressiona pela beleza dos detalhes que a moldam. Ali também se encontra ruínas da primeira mesquita da Índia, o que justifica a enorme quantidade de muçulmanos se prostrando em frente. Há também uma tumba e uma torre interminada que seria construída para ser maior que a anterior. O lugar é lindo, grande, cheio de lugares e detalhes a serem apreciados. O dia ensolarado levou milhares de pessoas, que ficaram jogadas na grama fazendo piquenique.





Não posso deixar de citar algo curioso que me aconteceu lá dentro. Uma senhora indiana, vendo minha luta para pedir a outras pessoas que tirassem uma foto minha, ofereceu ajuda. Claro que, de início, a achei super simpática, já que até indicava as melhores posições e ângulos para ser fotografado. Oras, mas assim que recolhi minha câmera (depois de tirar uma foto com ela), a tal senhora me fez lembrar que o velho ditado de que "nada é de graça" também vale (e muito) por aqui. Logo surgiu uma criança, que estava acompanhada dela, me pedindo uns trocados pelo "favor".



Assim que terminei esse passeio, comecei a negociar com alguns motoristas um preço razoável para que um deles me levasse até ao Lotus Temple. Meia hora depois, consegui.

Fiquei encantado com o que vi logo que cheguei ao lugar. O templo, em formato de uma flor de lótus, é uma casa de adoração à fé Barha'i, original da Pérsia. Particularmente, nunca tinha ouvido falar dessa religião.



Dentro de um imenso jardim verde e florido, é preciso enfrentar uma fila enorme para chegar ao seu interior, mas antes seus sapatos são recolhidos e devolvidos na saída. O lugar é limpo e organizado, com guardas que apitam contra os furões de fila e aos que pisam no gramado. Mas o mais incrível mesmo fica no interior do templo: um silêncio que só é rompido pelo cantarolar dos pássaros. Lá dentro, não existem imagens de deuses, nem esculturas, nem pinturas. É como se fosse um templo ou uma Igreja vazia, apenas com bancos para que as pessoas possam meditar e fazer suas orações. Não são realizadas missas ou cerimônias para que todas as pessoas das mais variadas religiões sintam-se bem-vindas ali, já que conforme seus princípios, todas as religiões ensinam o amor e a unidade, sendo o fanatismo e a intolerância as razões dos conflitos humanos.


Depois de ter minha alva lavada, retornei para meu quarto de hotel pensando no dia que acabara de ter e concluí quão abençoado sou por todas as oportunidades de conhecer lugares tão especiais capazes de me levar a uma profunda reflexão interior enriquecedora e um desenvolvimento espiritual fortificante.

5 comentários:

Anônimo disse...

Conhecendo voce, como conheco..ao ler e ver essas fotos, consigo sentir o dia lindo que teve.Realmente, voce é abencoado!!!Voce é lindo demais!!!Beijos.Mamis

Anônimo disse...

caraca véio... que lugar show... acho que depois dessas andanças, vc deveria escrever um livro... lembranças é o que não irão faltar... abraço!!!!

Thaís C. J. Nogueira disse...

Primo!! Fantástico, as fotos, a escrita.. e a saudade! Lindo lindo... Beijos mil.

Anônimo disse...

Oi Ximba. Outro dia eu li que a razao da India ser o povo mais religioso do mundo e' porque eles sao tambem um dos povos mais corompidos do mundo...
Acho que o seu texto mostra bem estes dois lados, nao e'?
Um abraco amigo.

Let's Xotan disse...

Meu, que lugares lindos velho!! Tu é um cara muito abençoado mesmo! Paz, amor e felicidade pra você amigo!!!
ps: poste mais vezes!!